A maldição de Arbon. Parte 8


XI.
— Temos de levá-la a um lugar seguro. — disse Irkan quando enfim pararam ofegantes.
— O mosteiro. — disse Macus.
— Já não lhes disse que não posso voltar? — falou Lissa em língua Comum — Eles não me receberão.
— E o que sugere que façamos? — perguntou Irkan.
— De fato, preciso de orientação do templo... — disse ela após pensar um pouco — Serei castigada, mas... não há outra forma...
— Ninguém lhe fará nenhum mal. — disse Macus. — Eu asseguro.
Ela assentiu vacilante.
— Esses sacrifícios têm de parar. — tornou Macus.
— Lissa, por favor, mostre-nos o caminho. — pediu Irkan interrompendo o outro.
Macus voltou-se para segui-la, mas Irkan o segurou:
— Nós não devemos interferir nas crenças das pessoas. Não estamos aqui para doutriná-las.
— E se estão equivocadas?
— Não lhe foi dada autoridade para julgar. Se estiverem equivocadas, um dia acordarão e melhorarão. Por ora...
— Então o que estamos fazendo aqui? — Macus cortou.
Irkan ficou em silêncio e observou o outro. Apenas quando Macus controlou seu impulso agressivo e aliviou o semblante desafiador, o outro respondeu:
— Estamos aqui para ajudar no que pudermos sem, no entanto, interferir no curso de suas vidas ou interferindo o mínimo possível. Suas escolhas, seus caminhos pertencem a elas e não a nós.
— Que tipo de ajuda propõe que ofereçamos a uma criança que quer morrer? E que, apesar de tudo, tem medo! Viu como ela teme os sacerdotes?!
— Se este é seu ideal e ela escolheu o seu caminho, não devemos impedi-la, porém, se ela vacilar ou se estiver sendo induzida erroneamente por alguma espécie de charlatanice, aí sim, podemos orientá-la. Lembre-se, seu modo de viver não é o único que existe e você não pode impor a sua vontade às pessoas. Se o povoado de Arbon vive feliz e segue seu curso, mesmo com famílias que oferecem seus filhos em sacrifício, nós não temos nada que fazer, mas se alguém está insatisfeito com a situação e provoca ataques e desentendimentos, podemos avaliar... Agora, devemos segui-la. Ou quer que ela volte sozinha?
Macus olhou a criança se distanciando e, sem nada dizer, deixou o outro e seguiu-a. Irkan foi logo atrás, não sem antes observar o caminho que haviam percorrido e avaliar se estavam sendo seguidos. Estranhou o fato de não haver ninguém em seu encalço.


Continua...

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