A maldição de Arbon. Parte 6
IX.
Irkan levantou-se com um pulo. Ia tomar a menina no colo, porém a
violenta rajada de vento também veio sobre ele, todavia, estando preparado,
resistiu e manteve-se firme no chão. Protegeu a criança atrás de si e sacou uma
espada curta da bainha. Colocou-se em posição de vigilância e esperou. Macus se
levantou com dificuldade e veio até eles. Nesse momento, ouviram um estalo e
uma grande árvore foi arrancada pela raiz e tombou próximo deles, não lhes
oferecendo, contudo, nenhum perigo.
Os três se afastaram e esperaram, observando.
— Não tenham medo. — disse
Lissa — Não creio que queiram lhes fazer
mal. Os fantasmas podem ser manifestações que se dão pela vontade dos Kamms. Às
vezes, podem estar querendo transmitir-nos alguma mensagem, embora eu ainda não
tenha compreendido qual seja. Vamos
descobrir, não se preocupem.
— E se eu lhe contar a minha
teoria? — disse Macus com a mão em uma costela e em meio a uma careta de
dor — Acredito que o fantasma não quer
que você morra.
— O quê?! — ela o olhou
desconsertada e pôs-se a observá-lo.
— Veja bem. Se tudo o que disseram
for verdade... Algo... ou esse fantasma... atacou um sacerdote no mosteiro. E
não atacou nenhuma criança, como você, consagrada, certo? — ela ficou em
silêncio, mas acenou confirmando. — Já
impediu por duas vezes que o ritual fosse realizado na praia, naufragando um
navio e, agora, atacando pessoas. Quando parecia que eu talvez fosse feri-la,
antes na praia e também agora, me atacou... Também atacou Irkan quando parecia
que ele fosse fazer algo com você...
A meio-elfa ia franzindo a testa à medida que ele falava. Ao fim, ela
baixou a cabeça e fez uma careta, então mirou Macus intensamente. Seu semblante
sereno se desfizera, parecia outra pessoa.
— Teriam os Kamms rejeitado meu
sacrifício?... — ela disse para si mesma — Teriam voltado as costas a mim? — sua voz se elevava. — Sou amaldiçoada! O que fiz de errado? — gritou
por fim. Seus olhos fitavam Macus procurando respostas. Ela o agarrou e começou
a sacudi-lo. O elfo não imaginou que uma criança pudesse ter tanta força, mas,
mesmo em meio à dor de uma possível costela quebrada, não fez nada para
contê-la.
— Chega. — disse Irkan
calmamente colocando as mãos sobre os ombros de Lissa. Seu toque envolvente era
tranquilizador. — Por ora, não há como
saber se a vontade do fantasma representa o desejo dos Kamms. — ele fez com
que ela soltasse o companheiro e o olhasse
— Compreende? Vamos pensar, está bem?
As palavras do elfo retumbaram na cabeça da pequena meio-elfa e, após
alguns instantes, ela começou a se acalmar. Seus olhos continham lágrimas e ela
sacudia a cabeça em sinal de negação. Deixou-se cair ao solo e começou a fazer
uma prece entrecortada por soluços. Usava o idioma Comum, mas suas palavras
soavam desconexas.
Continua...
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