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Mostrando postagens de junho, 2017

Pactos. Entre justos e pecadores. Parte 4

XX. O tempo passou, não tendo Espartakus podido calculá-lo, afinal não chegava qualquer raio de sol até aquele abismo sombrio e ele estava muito ansioso e preocupado com seus problemas. De repente, abriram a porta e o chamaram. Conduziram-no até a sala do Conselho, no primeiro andar, na parte frontal da torre. Era um saguão amplo, iluminado por tochas e pela luz do sol. Ali tudo era sóbrio, desde os móveis escuros até a cor das paredes. Não havia decoração além das tochas e castiçais. Cada um dos presentes se sentava diante de uma espécie de púlpito, todos voltados para o mesmo lado, à exceção de um. Este estava à frente de todos e, diante dele, Dúkar se sentava. Agora o chefe se cobria por um aveludado manto escarlate, além de adornar-se com novas joias brilhantes. À esquerda do púlpito principal, havia uma cadeira em um local de piso ligeiramente rebaixado, diante da qual se erguia uma pequena cerca de madeira, à guisa de parapeito. Espartakus foi mandado a este assento e a se...

Pactos. Entre justos e pecadores. Parte 3

XIII. Após demorar-se o suficiente diante do portão como se tivesse alguma esperança ou se, resignado, estivesse fazendo suas preces para partir, espiou a região e tomou o caminho de volta, rumo ao sul. Descendo pelo campo gramado, afastou-se o suficiente, sem se voltar. Quando já estava longe o bastante, interrompeu a marcha e olhou para trás. Analisou cuidadosamente a possível vigilância do Templo e tomou um caminho tortuoso pela direita, subindo o morro de volta. Alcançou a muralha pela lateral, longe do portão de entrada, e seguiu acompanhando sua borda em direção a um ponto mais ao norte. Ali parou e olhou para cima. Havia mais de sete metros entre o chão e o topo do muro, e Espartakus calculava suas chances de chegar até o alto com um pedaço de cipó que levava na sacola de viagem. Ele improvisou a fixação de um gancho à ponta do cipó e, mirando cuidadosamente, atirou-o para o alto, prendendo-o à parte superior da muralha. Testou a firmeza da corda e a capacidade de suportar ...

Pactos. Entre justos e pecadores. Parte 2

VII. Escapar de Lakar não foi tão difícil quanto se poderia esperar, embora sobreviver ao caminho rumo ao Templo ainda viesse a se mostrar uma tarefa realmente árdua. Ao amanhecer, Espartakus ia longe na trilha ao norte de Lakar, rumando para a Cordilheira do Espumante, após ter cruzado parte das plantações de Tívan. Seguira apressado, como se tivesse lobos em seu encalço ou se sua resolução pudesse enfraquecer caso se delongasse, e percorrera um longo caminho rumo ao norte até interromper a marcha, pois, inevitavelmente, teve de parar para recuperar o fôlego. Como previra, assim que pôde pensar, mesmo com a mente agitada, começou a vacilar entre o desejo de voltar e a resolução de seguir adiante. Pensava que sua família poderia ser submetida a muitos castigos caso seus algozes percebessem sua fuga, embora não acreditasse que pudessem dar por sua falta. Mas respirar o ar da liberdade fez muito bem a ele e logo abandonou as ideias negativas. Fixou a resolução de que o sofriment...

Pactos. Entre justos e pecadores. Parte 1

I. Espartakus era ferreiro. Ele vivia em um pequeno povoado chamado Lakar, localizado ao norte do Pântano dos Lamentos, na parte sul de Impéria, um dos continentes de Arcaires. O velho Espartakus passara parte da vida trabalhando na cidade portuária de Duegom produzindo diversos artefatos, inclusive os bélicos. Mas, profundamente desgostoso em ver o produto de suas mãos usado para ceifar vidas, tomou sua família e deixou para trás a fama e o conforto que conseguira com seu primoroso trabalho e escolheu uma vida pacata no vilarejo de Lakar. Tinha agora sete filhos e ensinava seu ofício a eles, de modo que praticamente todos o acompanhavam na labuta noturna de moldar o ferro diariamente, produzindo muitas das ferramentas que eram usadas no trabalho da terra ou em outros afazeres, que não a guerra. O filho menor, chamado Espartakus como o pai, vivia escapando do trabalho na oficina. O rapaz tinha o espírito aventureiro e irrequieto e distraía-se quando o pai lhe falava de tarefas mo...